sábado, 15 de maio de 2010

Relógio da parede da cozinha, repetições e reticências.

"Mudaram as estações, nada mudou. Mas eu sei que alguma coisa aconteceu, tá tudo assim tão diferente.."
tempo..tempo..tempo
O tempo passa.
Tão inquestionável essa afirmativa quanto a certeza de que vivemos.Viver talvez seja a coisa mais difícil de se entender, tanto quanto que o tempo passa.
Hoje me peguei olhando para o relógio da cozinha, é analógico, e num mundo tão informatizado os ponteiros, sons, perturbam, estranham..Parece tão lento! Ele é o relógio mais antigo que conheço o que não faz dele tão antigo assim, certo é que durante toda a minha vida ele, exatamente ele, esteve ali na parede da cozinha. Parado.
Armação de madeira, uma imagem no fundo, ponteiros brancos e um vermelho..difícil dizer se feio, exagerado talvez, acostumei-me com ele naquele lugar e ele se acostumou a marcar minha vida. Ele é testemunha de que estou vivendo. Não dá pra protestar, dizer que hoje não fiz nada, hoje não quis nada, vivi nada. Ele porém prova que tive as mesmas horas, minutos, segundos.
De repente eu tenho raiva dele que não pára, não espera, não se adianta para prevenir, não regressa para corrigir. Ele passa.
Lembro de dias em que ele demorou uma eternidade, lembro de dias que ele passou rápido, dias que poderia ter parado na eternidade...hoje, logo hoje ele só passa. E sempre cobra, se desperdiça o agora faz querer o ontem.
Viver é raro, tempo é caro, o relógio exato.
Enquanto escrevo essas linhas penso que o título perfeitamente poderia ser "aos 21", penso mais um pouco, poderia ser "aos 16", penso que poderá ser aos 30, 40..Enquanto escrevo essas linhas o tempo passa. Palavras repetidas ao vento, momento lento.
Passa o tempo.
"O pra sempre sempre acaba"
Por enquanto
Legião urbana

2 comentários:

  1. Que lindo, Narry .. adorei o texto! Beijos, "loura" ;**

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  2. "...ele se acostumou a marcar minha vida..."
    Aplausos para a ambiguidade da palavra marcar. Lírico, muito bom. Só não sei quem escreveu o texto... Pela pontuação, e a vibe, diria que foi a Raquel, mas a citação da L.U. não tá muito a cara dela...
    Enfim... parabéns a autora!

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